Vamos considerar
Ler muito, gostar de geopolítica, jogar videogame e entender mais de um idioma. Quem ouve essa descrição da jovem Gabi poderia pensar que se trata de alguém muito esperta, que aprende fácil e tem certa malandragem. Eu mesma, na empolgação da adolescência, achei que tinha as manhas em lidar com o mundo. Que bobinha. Que Naïf.
Naïf pode ser lido como sinônimo para ingênuo, inocente ou crédulo.
Conheci o termo por conta de uma exposição de arte naïf na minha cidade natal, Caraguatatuba-SP. Acaba que essa classificação me levou para aquelas reflexões sobre o que é arte e confesso que não tenho bagagem o suficiente para falar sobre o assunto.
Ultimamente tenho visto discussões sobre a diferença entre arte e artesanato ser a lógica capitalista. Na minha cabeça, chamar uma obra de naïf é um jeito de tentar fazer uma conciliação, sem colocar a pintura de pano de prato no mesmo patamar da Monalisa. Não que isso seja importante para o resto da conversa de hoje.
Naïf também pode ser uma qualidade de quem é ingênuo, inocente ou crédulo.
Eu acredito
Não espere uma visão religiosa. Quando eu falo que acredito é nas pessoas. Não em todas, mas em uma parte considerável das que fazem parte da minha vida. Eu entendo que as mentiras fazem parte do azeite social, ainda mais dentro da cultura brasileira onde qualquer coisa parece ofender as suscetibilidades, os eguinhos frágeis.
Na minha cabeça, a partir do momento em que você se torna mais próximo de uma pessoa a ponto de considerar que construiu uma amizade, esse azeitamento é uma grande perda de tempo. Não ajuda ninguém e fragiliza a relação. Acontece que, mais recentemente, descobri que esse tipo de visão faz parte da minha condição neurodivergente e que o humano típico, na realidade social brasileira, quer mais é perder tempo.
Aí é um tal de fazer joguinho, falar uma coisa querendo dizer outra, florear cenários e conviver em um grupo sem que ninguém entenda nada. Mas tem mais.
Sempre tem mais
Lembro que certa vez recebi um conselho: eu precisaria ser mais fofa no trabalho. Apesar de eu ter uma grande preocupação em não magoar as pessoas, sou assertiva.
Se preciso falar alguma coisa, vou direto ao ponto. É assim, se preciso dar um feedback ruim, ele será dado. Não com grosseria, mas é sobre isso que será a conversa. Descobri que a maior parte das pessoas fazem um sanduíche, ou seja, envolvem o feedback ruim entre duas coisas boas.
O que acontece com isso? A mensagem fica confusa e diluída. A gente perde a objetividade, quem tá falhando pode focar só nas coisas boas ao redor e por aí vai. Sem falar o que precisa, tem incompetente se achando, preguiçoso que continua sem entregar e mau caráter que se cria. É uma cilada.
Consideração
Além de situação de trabalho, a vida real fica complicada. Lembro de uma anedota em que o casal passa a vida comendo um prato que nenhum dos dois gosta porque acredita que o outro gosta. Na falta da sinceridade, os dois comem sem gostar.
O pior disso é que a gente vai se afastando, se irritando aos poucos, até o momento em que vem a cobrança por fazer o que não quer para agradar. Como se o outro tivesse qualquer responsabilidade nisso — desculpa por falar a verdade, mas se a escolha foi sua, o outro não tem nada com isso. A falta de franqueza cobra um preço que às vezes é alto demais.
Se você não quer ir em um lugar, não quer assistir um determinado filme, tem uma fobia de gente ou de espaço apertado, ou sei lá qual motivo que pode fazer o outro ficar esperando, ter que refazer planos ou qualquer coisa. Se você não pretende fazer, não fale que vai. Não marque pra depois faltar e principalmente não invente uma história mirabolante.
A consideração pelo tempo do outro é uma coisa muito importante. Falo isso por que no fim do dia tudo o que a gente tem é tempo. Ele vai ser disponibilizado para limpar casa, ver filme ou encontrar com pessoas e uma hora o tempo acaba. Dificilmente a gente consegue fazer tudo o que quer com o tempo que tem, então lembre-se que é igual para os outros.