Pandemia, isolamento social e como as marcas de luxo estão lidando com isso
Talvez você, assim como eu, esteja nesse momento sem cabeça para algumas coisas e nem tenha se dado conta que Semanas de Moda ficam inviáveis com a situação atual.
Mas é aquela coisa, enquanto muitos de nós estão preocupados com as contas, morrendo de medo de ter que ir parar em um hospital e ser entubado, parte da população mundial continua milionária ou bilionária. Diz que aqui no Brasil mesmo, o número de milionários aumentou no último ano.
Na minha cabeça de cientista que não foi, se uma grande parcela da população está perdendo dinheiro alguém está ganhando. Ou seja, o dinheiro não evaporou para o nada. Eu adoro um vídeo da Ritinha sobre a existência dos bilionaires, que para mim desenha muito bem a desigualdade social.
Isso tudo só para dizer que
Se tem milionário no mundo, vai ter gente produzindo luxo para vender.
E se tem coisa para vender, tem que mostrar com toda a pompa.
Mas com as semanas de moda canceladas por conta do Covid-19 e da necessidade de isolamento social e tal, as marcas se viraram para mostrar os modelos que custam mais do que vou ganhar o ano todo em novos formatos.
Balmain
Um desfile é um desfile. A marca fez do rio Sena seu palco, colocou as modelos (descalças para não cair e com distanciamento social) em cima de um barco e contou com um dia lindo em Paris. Para mim, trouxe uma sensação de que resistência, de apropriação da cidade. Alguns vestidos bonitos, mas não foi isso o que mais chamou atenção aqui.
Dior
Todo o poder o storytelling derrapando nas representatividades. Eu juro que tentei só me deixar levar pelo encanto e beleza, mas não deu.
Não tenho mais 4 anos de idade e não posso ignorar a falta de representatividade étnica (e olha, os gregos de onde saíram alguns mitos, pelo que estudei não são todos super brancos). O vídeo traz imagens que "parecem pinturas". O problema é que parecem pinturas feitas por dentro de uma estética quase nórdica, e cá pra nós, o enredo cabia bem uma diversidade cultural sem tirar a qualidade.
Outra coisa, as mulheres só ficam felizes após cobrirem o corpo, reforçando a ideia de que somos fúteis e/ou devemos ter vergonha do que somos. Os homens não ligam para isso, nem Narciso, que é suficiente em sua própria imagem.
No mais, alguns vestidos são realmente deslumbrantes.
Chanel
Simples, clássico e eficiente. Tem um modelo cinza que eu não entendo muito bem o que faz aí, mas fora isso, achei interessante. A estilista que assumiu a marca depois do Karl ainda tá achando sua pegada, mas pela primeira vez eu senti segurança no que ela apresentou.
Traz uma coisa otimista, traz diversidade, a mulher parece ser dona de si. Uma coisa que até me remete a uma Coco Chanel contemporânea, mas preciso ver mais.
Prada
Aqui tem arte, mas a Miuccia sempre flerta com a arte e esse caminho tem a assinatura dela. Chamou vários diretores para fazer curtas que apresentaram momentos da sua coleção. "O show que nunca aconteceu" é uma peça do nosso tempo, o casting mais diverso entre esses exemplos consegue mostrar até nosso tédio e cansaço.
Só que sim, é todo mundo muito magro.
E o que será usado por nós, os mortais?
Bem, no momento eu continuo aqui apegada ao meu moletom. Apesar de tanta gente repetir que não existe mais tendência, sabemos que sempre tem algum detalhe que cai no gosto de todo mundo.
Chamou a minha atenção o foco nos ombros, a renda branca fazendo desenhos sobre tecido preto e formas afastadas do corpo, entre franzidos e drapeados.
Acho que as coisas ainda não estão muito definidas porque a vida não está muito definida. A moda segue o espírito do tempo, ficando mais positiva e alegre ou mais sombria conforme o ambiente geral. Os próximos meses, a divisão da renda, a expectativa de vida, tudo isso vai influenciar na forma como vamos nos vestir, muito mais que um ou outro estilista.
O que você espera para as próximas temporadas?