Quando as palavras estão esgotadas, procuramos sentido sem encontrar um ponto final. Tudo são reticências. No sono do dia, na letargia que acompanha cada movimento, sonhamos com aquela energia que já moveu muito mais do que uma mão à tela de um celular.
As baterias estão paradas. Talvez tenham enferrujado. Será que algum dia movimentaram alguma coisa com vigor? Os sonhos parecem estar cada vez mais distantes, nublados por uma névoa que vai apagando o brilho da felicidade.
São tantas camadas de obscurantismo que começo a ter medo de pensar. E agora? Discordar causa desconforto, concordar causa dor. Não existe uma saída saudável para quem nasceu na média da vida.
Dói saber do próprio privilégio, admitir que tem mais recursos que uma grande parcela a quem é negado todo e qualquer direito. Não dói para todos, eu sei. Isso faz de mim uma grande hipócrita?
Eu quero me encantar com as cores outra vez, mas como esquecer que sou julgada o tempo todo? Qual o sentido de estudar qualquer coisa se entrar em um debate pode ser se colocar em perigo — de vida ou de ridículo?
A criatividade vai escorrendo pelo rosto, vai embora com as lágrimas que brotam se serem chamadas. As mãos digitam qualquer coisa, para ganhar dinheiro, para escoar as dúvidas. Mas não digitam o que eu gostaria de escrever. Até porque nem eu sei.
