A vida é feita de coisas que começam, se desenvolvem e acabam. A vida em si é uma coisa que começa, se desenvolve e acaba. É uma coisa da natureza, é uma questão de física e conservação de energia.
Desumanos que estamos, não entendemos mais como essas coisas funcionam. Pior, temos medo da coisas como são. Quer dizer, não é tão simples assim. Nada é tão simples assim.
Um medo que é aprendido
Dizem que as mulheres são vaidosas e têm medo de envelhecer e com isso vem toda uma mitologia problemática com aniversários e datas. São padrões que repetimos indefinidamente, afirmações que repetimos sem pensar até que uma parte (grande) começa a acreditar nelas.
Envelhecer não deveria ser um problema, tudo envelhece, até o próprio planeta e ainda bem. Imagina se a Terra ainda fosse aquele planetinha jovem que fica explodindo lava o tempo todo, tremendo sem parar antes dos continentes se acomodarem? Ou você acha que a adolescência só é agitada para seres humanos?
Brincadeiras inúteis a parte, envelhecer não deveria ser um problema porque é inevitável. Podemos pesquisar formas de atrasar o envelhecimento celular, de manter os ossos inteiros, os músculos firmes, os órgão em funcionamento e os olhos enxergando. Inclusive, essas descobertas fazem parte do nosso amadurecimento enquanto humanidade. Mas ninguém tem a obrigação de se congelar na forma e função dos 18, 25 ou 30 anos para sempre.
Mitologias diárias
Várias histórias são criadas para aumentar o poder do medo de envelhecer. Os aniversários são precedidos do inferno astral. Uma parte do seu ano será dedicado a lembrar que envelhecer é ruim.
Outra coisa, cada ano é acompanhado de uma nova cobrança, um objetivo social que é preciso alcançar e passar recibo. Suas notas são boas o suficiente? Suas roupas são boas o suficiente? Seu corpo é bom o suficiente? Suas viagens são divertidas o suficiente? Você vai casar? Vai ter filhos? E o salário? Mas você já foi no lugar da moda?
É uma corrida e como em toda corrida nem todos estamos na mesma posição durante a largada. Aliás, quem é que sai na frente? E será que isso realmente é bom? A aparência tem que ser juvenil, mas as conquistas não. Envelhecer passa ser enfrentar cada vez mais cobranças, um ciclo ruim demais.
Para a mulher é um pouco pior, porque o corpo feminino tem seus ciclos e fala bem claramente que o tempo passou. Tem o tempo em que a mulher é fértil, o tempo que está acabando, o tempo da menopausa. A própria menstruação é uma história de um ciclo mensal cercado de mistérios, culpas e horrores. Piadinhas sobre sangrar e não morrer, quem ainda aguenta?
Relacionamentos têm tempo?
A maioria das pessoas pensa apenas em relacionamento amoroso. A coisa toda do casamento é tão idealizada, tão romantizada, que parece que é o único que pode nascer, crescer e, eventualmente, morrer.
Tenho minhas dúvidas. Sou uma pessoa com amigos de décadas, então pode parecer estranho eu falar isso, mas por ser uma pessoa que gosta tanto de cultivar e manter amizades, consigo perceber quando ela simplesmente não existe mais.
É muito difícil ver que um grande amigo passou a ser só um conhecido. Uma pessoa que fazia parte da sua história, em quem você confiou muito, passa a ser um estranho. Acontece alguma coisa, você lembra de uma amiga e ela já não é mais importante. Ou você não se lembra. Então, acabou.
No ciclo que está começando…
Acabei de fazer 39 anos e caramba, são 39 anos. Foi um dos melhores aniversários da vida. Recebi mensagens maravilhosas de velhos e novos amigos, da família e até de lojas.
Mas o mais importante é finalmente perceber que preciso deixar coisas e pessoas para traz. Fechar um ciclo que já dura anos para que esse tenha apenas essas vibrações leves e positivas que me mandaram.
- Eu não preciso mais ser a pessoa que resolve tudo dos outros enquanto me deixo de lado — e se isso incomodar você, acho que vamos nos distanciar.
- Eu não preciso mais me diminuir para que as outras pessoas se sintam melhores — e se isso for um problema, vá você para terapia.
- Eu não preciso mais ficar quieta para que me aceitem — tem quem goste de conversar comigo, mesmo sem concordar com o que eu falo.
- Eu não preciso mais me apegar à dor — de cabeça, nas costas, nos pés, tenho direito a me sentir bem.
- Eu não preciso mais me explicar.