Quando a pessoa dá defeito.

Uma vez me falaram que toda emoção intensa pode nos derrubar, mesmo se for uma emoção boa. Finalmente eu entendi isso.

Gabi
3 min readFeb 24, 2025

Quem não está à beira de um surto neste começo de ano ou é privilegiado, ou tem um psicológico muito reforçado. Tudo, em todo lugar, ao mesmo tempo. Perdas, desafios, conquistas e comemorações. Sem tempo pra respirar entre em acontecimento e outro, enquanto tento retirar a medicação de ansiedade, que descobri que não tenho. O problema é que a medicação causa uma certa dependência.

Sinceramente, descobrir que o remédio é dispensável me dá mais alívio que outra coisa. A questão é que ele me mantinha num modo meio anestesiado e agora tenho 10 anos e qualquer coisa de sentimentos não processados totalmente.

Além disso, estou chata. Deixando de relevar as coisas que relevei por muito tempo (ou será que estou apenas me respeitando?). Uma porque o raciocínio voltou com tudo e outra porque a vida vai ficando cada vez mais curta. Algumas amizades param de fazer sentido e outras vão embora quando você deixa de concordar com tudo. Acontece.

Apesar de eu me sentir mais forte, nem todos os dias são fáceis. Quase nenhum dia tem sido realmente fácil, porque o remédio me deixou longe de mim por esse tempo todo e lembrar como é ser eu mesma, é difícil. Como eu me comporto? Do que eu gosto? Quais são meus sonhos? Onde estão meus limites? Por enquanto só tenho perguntas e a sensação de que fiquei para trás.

Hoje sei que em grande parte essa sensação é resultado da superdotação. E eu, que queria ser superdotada a vida toda, quando descobri que sou mesmo, percebi que sem os estímulos e a autoconfiança, essa capacidade de ver e interpretar o mundo não ajuda muito.

Uma fraude. Um desperdício. Uma incapacidade de me sentir parte. A vontade de fugir. A necessidade de me isolar. A dificuldade de entender porque tanta gente escolhe a ignorância. Escolhe. Porque o pastor falou. Porque quer continuar com as coisas como são. Porque tem preguiça de ver o outro lado. Pra que serve um QI muito alto nesse mundo?

Claro que na teoria eu entendo. Mas quando o comportamento é próximo demais, pessoas que conheço, converso e admiro vai ficando difícil. Caramba, coisa que faz do amar ao próximo uma luta.

Recentemente, eu não aguentei. Pedi um Uber e fui ficar sozinha. No silêncio. Mas hoje, pensando, estou com dúvidas: o erro está em entender o que sinto e sair ou em resistir bocejando sem parar para não demonstrar que precisava sair.

Eu queria aguentar mais firme, estar mais entre as pessoas. Mas faz bem pra mim? Tem dias em que as coisas fluem, mas tem dias em que só o combo água gelada, banho e cama dão conta.

Claro que isso faz eu me sentir um tanto infantil. Mas até aí, tanta coisa faz. O salário ruim, a falta de destaque no trabalho, a falta de capacidade em cuidar da minha saúde. O tempo tá passando e eu escrevendo aqui feito uma adolescente. Vai saber se não é disso que eu preciso mesmo.

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Written by Gabi

A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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