Qual é o sentido?
Eu escuto o coração batendo no ouvido. Não é um bom sinal. A cabeça vai doer em pouco tempo, o choro talvez esteja chegando ou talvez eu precise brigar com alguém.
A verdade é que eu deveria falar que ninguém precisa realmente brigar, mas não sou chegada a essa mentira paz e amor que contam pra fazer você se sentir mal por não ser um semi-deus da compreensão. Às vezes a gente apenas precisa experimentar ser real, falar a verdade dolorida e incômoda que escondemos para manter a sociedade razoavelmente coesa. Mas enquanto a sociedade fica minimamente coesa, maltratando muitos, se é que não maltrata todos, vamos nos despedaçando e doendo.
Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum.
Respiro fundo e seguro as palavras. Dizem que palavras machucam e sei que machucam mesmo, melhor deixar pra falar outra hora, não quero ser injusta. Fecho os olhos e os batimentos dão lugar a uma dor pesada sobre uma das têmporas.
Abro os olhos e vejo estrelas flutuando por todos os lados. Seria lindo se eu não soubesse de onde elas saem. Alongo o pescoço e os ombros, elas ainda estão me rodeando. Massageio as têmporas e o brilho das estrelas se intensifica. Sou engolida por uma delas e, por muito pouco, não apago.
Água por todos os lados, é o jeito. Um copo, aos poucos, preciso beber devagar para não apagar de verdade. Mais um copo. Ainda é pouco, preciso respirar água. Lavo o rosto com água fria, entro de corpo inteiro. Não existe meio ou metade quando as estrelas estão em seu campo de visão lembrando que você pode não aguentar.
Uma brisa fresca balança o meu cabelo e dá a entender que as coisas vão melhorar. Não tenho certeza do que veio depois, acordei com o silêncio profundo e o nada que, se não era bom, muito menos era ruim. Nenhuma batida no ouvido e nenhuma estrela brilhando no meu campo de visão. Apenas a brisa e o silêncio. Entendi, o nada era bom hoje.
