O que é pra comemorar?
Talvez você olhe pela janela e diga: “- Como assim? está sol lá fora.” , mas se olhar bem, vai perceber as nuvens. Tem nuvens de fumaça, de medo, de raiva e de tristeza.
Dizem que precisamos ficar quietas e resistir em silêncio. Mas para isso precisamos nos arrumar, para passar credibilidade. Mas não nos arrumar tanto, que parece que a gente levou um tempo pra chegar em um resultado.
Entre as nuvens que nos cercam precisamos ser confiantes, um pouco. Mostrar um pouco de medo pode ser charmoso e tem poeta que diz que a tristeza tem certa beleza, mas a raiva está terminantemente proibida. Ah, claro, uma mulher não pode sentir raiva.
Uma mulher também não pode ser assertiva, insistir no que acredita ou ficar indignada. Tudo isso vira sinônimo de raiva quando se trata de mulheres e está proibido.
Uma mulher não pode se colocar em risco.
Veja bem, isso é mais amplo que uma primeira leitura mostra. Não é só o risco de assédio, de estar passando uma mensagem sexual errada. É o risco de ser mal interpretada o tempo todo e sobre qualquer assunto. O risco de ganhar menos que os homens ou o risco de ser demitida por exigir direitos. Escolha um risco e lembre-se que a sociedade não quer que você ultrapasse essa linha para o benefício de… bem, dizem que é para o benefício da própria mulher.
Claro que, nem todas as mulheres obedecem e algumas das que não o fazer e conseguem sobreviver viram o motivo para você ser chamada de fraca. As possibilidades estão aí, você não pega porque não quer.
Porque você não tem o visual certo ou porque se preocupa demais com aparência. Porque não se casou ou porque resolveu ser mãe. Vão dizer que você não vive a vida que quer porque não sabe escolher. Ah, esqueci de falar antes, uma mulher não pode ser tudo o que quiser. Eu sei, que a propaganda da boneca prometia outra coisa, mas ela também prometia uma cintura irreal.
O privilégio de ser mulher
Dizem que mulher reclama muito. Afinal a vida da mulher é fácil. Sim, algumas têm privilégios de recorte de cor ou condição financeira. Mas não conheço nenhuma mulher são que não tenha medo de andar sozinha, ou que não tenha sido assediada de alguma forma. Não conheço uma mulher que não foi silenciada pro toppister falar — seja em assuntos importantes ou em besteiras do dia a dia.
Aqui imagino a voz de algumas pessoas que conheço falando sobre a capacidade de cuidar de várias coisas ao mesmo tempo, de engravidar, da sensibilidade e outras falácias. Não é privilégio se a gente é cobrada a vida toda para exercer esse papel até ter um burnout — mesmo quando isso não tinha esse nome.
E lembre-se: quando ele, o esgotamento do seu trabalho (reconhecido ou não) chegar, a mulher será chamada de boba, feia e chata. Ou histérica, egoísta e desequilibrada.
Um brinde
Agora que já destilei o sarcasmo, chegou a hora de lutar. O que vamos fazer?