O que é isso?
Conheço algumas pessoas que falam sobre uma vontade de sumir, ir para outro lugar em que não conhecem ninguém ou mesmo dormir e não acordar. Algumas falam da boca para fora e outras, bem, outras têm um desejo grande de que esse tipo de coisa realmente aconteça.
Eu mesma, por um bom tempo, alimentei a vontade de perder a memória e reiniciar a vida, como se uma nuvem de fumaça pudesse me colocar em outro lugar, outra realidade. Por vezes foi perder toda a memória e por vezes, só a memória recente. Ainda bem que não aconteceu.
Sou uma pessoa que já se mudou de cidade algumas vezes, por isso posso dizer que não adianta querer um cenário todo novo se você continua sendo a mesma pessoa de sempre. Um cenário novo é empolgante e assustador. Você precisa aprender e se adaptar a novas regras, conhecer um novo vocabulário — o que não é exatamente um novo idioma. Mas é aquilo, se suas atitudes se mantêm, provavelmente em pouco tempo você se vê outra vez nas mesmas situações desagradáveis de sempre.
Comecei falando de uma mudança de vida radical, mas podem ser mudanças menores, como de emprego ou escola. Tenho uma amiga que sempre reclama que as pessoas do trabalho são umas cobras, mesmo mudando muito de emprego. No começo eu achava que ela tinha muito azar, mas depois comecei a pensar se o problema não era outro.
Estou longe de dizer que nunca conheci gente ruim por onde trabalhei. Assédio moral existe e pessoa querendo passar a perna também, mas o ambiente péssimo com pessoas horríveis não é uma média na minha experiência. Será que é sorte?
Vem meteoro
A gente vive em um momento histórico em que o mundo parece que vai acabar a qualquer momento. O aquecimento global está mostrando que é mais que um calorzinho extra, implica em mudanças profundas na nossa realidade. Já faz quase um ano que aqui em São Paulo a gente vive entre ondas de calor, e agora que o tempo está muito seco, a qualidade do ar está pior do que nunca. Me lembrou um pouco o início do filme Interestelar e isso é péssimo.
Enquanto as notícias dão conta de maiores fortunas, com dezenas e centenas de bilhões, a gente vê uma geração sem esperança de ter casa própria ou se aposentar um dia. O resultado não está sendo revolta, mas inação, o que faz quem é das gerações anteriores falarem em pessoas sem comprometimento, como se não tivessem participação na construção dessa realidade.
Isso é uma coisa que sempre me deixou pensativa. Quando uma geração reclama das pessoas mais novas, acaba se esquecendo de sua parcela de responsabilidade. Quem teve filho, criou, educou — diretamente ou não, ajudo a fazer essa realidade de pessoas sem esperança, decepcionadas, hedonistas viciadas em telas. Não é uma questão só de grandes corporações e organizações misteriosas, é uma cultura criada dia após dia por cada um de nós.
A gente vota, consome, se conforma ao ver situações de subemprego, ao ver a justiça liberar bandido confesso por ele ser rico. Come uma comida que não presta porque não tem tempo ou dinheiro para fazer uma alimentação saudável. Enfrenta horas de trânsito porque tem medo de perder o emprego se questionar sobre home office.
Falando nisso, hoje, dia 11 de setembro de 2024, vi no jornal que questionaram o governador de São Paulo sobre decretar uma espécie de calamidade pública, para as empresas fazerem home office e assim diminuir a poluição e a exposição das pessoas a essa qualidade de ar péssima. Ele considera que ter a pior qualidade do ar por dias seguidos não é motivo o suficiente.
Talvez o governador e sua família possam se fechar em ambientes controlados e ir em um pronto-socorro de primeira linha, obviamente particular e inacessível para maioria de nós. E ele não vai achar a situação grave o suficiente para desagradar seus correligionários e investidores.
Talvez as pessoas peçam o meteoro porque seria um fim em que não teriam responsabilidade. Ou porque seria mais rápido, menos sofrido que ver a humanidade acabando em doenças e subnutrição. Mas ao que parece, não tem nenhum meteoro em rota de colisão para breve.
Sem solução mágica
Seja para questões pessoais ou da humanidade, parece que não existe um ser fantástico que vá resolver tudo em um passe de mágica. Sim, ser fantástico é a entidade que criou a porra toda, seja ela a que você acreditar.
Fala-se que o início da La niña poderia minimizar os problemas climáticos no Brasil, mas isso depende de sorte. E um problema que não foi criado no acaso precisa de uma solução estruturada, consistente e não de um fenômeno de sorte. A gente não precisa que Maria passe na frente ou os anjos digam amém para resolver os problemas que criamos. Precisamos de melhor distribuição de renda, justiça efetiva, fim da exploração desordenada da natureza. Veja, nada tão mágico ou misterioso, mas que parece ainda mais difícil de acontecer que uma intervenção divina.