Existe um instante, um momento muito único quando a gente está acordando, entre dar a primeira respirada consciente do dia e abrir os olhos, entre sair do sonho e se dar conta da realidade, em que tudo o que existe é paz. Infelizmente esse momento dura apenas o tempo de você ter a consciência de quem é, onde está ou que tem contas pra pagar.
Esse instante, antes de algum barulho ou lembrança perturbar a paz, antes da cabeça começar a doer, de você se lembrar quem é o presidente do país ou em que planeta vive, é o mais perto de um estado de plenitude que eu consigo imaginar. É o momento em que tudo parece possível, até os objetivos mais difíceis.
Tenho pra mim que ao meditar o objetivo é reproduzir esse estado de tranquilidade e conexão com a vida. Essa harmonia.
Meditar é difícil
Meditar de verdade é difícil. Sabe, eu me sinto bem com meditação guiada e, às vezes, é tudo o que vou conseguir no dia. Mas tenho consciência que é um paliativo. Já li críticas aos apps de meditação, e elas têm seus fundamentos.
Esse autoconhecimento necessário para uma meditação profunda, esse esvaziamento para conseguir observar sua mente como se estivesse de fora, não vem assim, fácil (a não ser que você já seja uma pessoa predisposta a isso, não é o meu caso). É difícil ficar na própria companhia e ainda se encarando sem a distração de uma série, uma rede social qualquer. Totalmente focada em ser quem se é, sem máscaras.
Nossa, isso é de uma dificuldade imensa. Porque o que normalmente incomoda nos outros começa a chamar atenção vindo de você mesma e não tem como disfarçar. Aí é a hora em que eu fujo e falo que não consigo meditar. Ou é a hora em que já meditei o suficiente e preciso lidar com o que encontrei? Não entendo muito bem do assunto.
Pois é, minhas divagações sobre meditação são divagações. né? Nunca fui pra Índia, faz mais de 20 anos que não participo de um retiro de qualquer tipo, deixei de acreditar em muita coisa no meio do caminho.
Meditar também é fácil
Quer dizer, dizem. Crianças aprendem e meditam. Pessoas podem meditar em qualquer lugar e situação, se souberem como. Em uma palestra de um monge tibetano muito simpático que não vou me lembrar o nome, ele falou sobre usar veículos para nos levar a estados meditativos. No caso, era um sino daqueles que tem um toque bem longo. Esse tipo de barulho normalmente me irrita. Mas tenho um em casa, talvez eu tente.
Uma professora de ioga falava que não dá pra esperar que o mundo faça silêncio pra gente poder meditar, temos que aprender a deixar o barulho passar pela gente. Igual ao que devemos fazer com os pensamentos que chegam pra nos distrair: ok, você está aí, mas não posso te dar atenção agora.
Perder respeito acontece
Perdi respeito por muita coisa nos últimos anos e não é um caso de ter ficado sem educação. A não ser que você pense pelo viés que a educação que recebemos é ruim e nos faz ter hábitos ruins para nossa vida, aí talvez seja o caso. Mas o objetivo não é agredir ninguém, apesar de ter vontade de fazer isso às vezes. Enfim.
Sabe quando você percebe que a amizade não é construtiva e que você se machuca demais com os conselhos que são só “pro seu bem”? Ou que algumas coisas que antes eram tidas como inquestionáveis, precisam sim ser questionadas?
Eu tendo a manter a educação, mas o respeito, ele morre dentro de mim. Eu deixo de acreditar e dar importância. Isso já aconteceu muitas vezes e eu já me questionei se essa dinâmica era boa pra mim. Será que sou uma pessoa pior por deixar de respeitar quem antes eu tinha em alta conta? Será que isso vai me fazer mal? Às vezes eu me questiono se deveria manter algum sentimento por quem fez questão de matar cada gota de amizade ou tentou minar meu amor próprio, se a falta de alguma coisa aqui não é um sinal de que no fundo a pessoa ruim sou eu.
Pois é, uma besteira, eu sei. Mas quem foi criado na cultura cristã com a cobrança de ser sempre a melhor, entende a dificuldade que é para se livrar desse tipo de culpa que nem deveria existir. A tal da outra face.
Por essas coisas estranhas, que a vida, a sociedade, a nossa história nos traz. É por isso que eu insisto em tentar meditar. Ou qualquer coisa do tipo.