Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo. (Oscar Wilde)
Os ciclos e a nossa necessidade de marcar nossa existência dão origem a reflexões que saem de algum lugar e vão fazendo curvas que nem imaginamos. Em um ano de pandemia e quarentena, fiz quarenta anos. Ainda sinto que sou um pouco mais que uma criança, mas os cabelos brancos e as marcas de expressão me chamam à realidade no espelho.
Eu, que na infância e adolescência tinha tanta certeza do que queria ser ao crescer, ainda não sei que rumo dar para minha carreira. Mas já sei que não é ser cientista, trabalhar com números e desvendar o espaço. Continuo amando olhar para o céu, mas aqui, no meio da cidade grande, é difícil ver muita coisa no horizonte e tem tanta luta aqui na Terra que me preocupa mais. Também continuo tendo facilidade para cálculos, abstrações matemáticas e teorias científicas, mas mais como curiosidade e elemento para entender o mundo que objeto de trabalho.
Sobras
Eu implico com detalhes. Na verdade implico com muitas coisas, mas não com Oscar Wild. Dele eu gosto. Por mais que a sociedade tenha supostamente mudado, em geral o que ele escreveu ou disse continua válido, ainda que seja incômodo de alguma forma. Preciso ler mais e conhecer melhor sua obra, porque provavelmente vai me ensinar mais que os últimos cursos online que fiz.
Não que os cursos online sejam ruins em essência, não o são. Mas alguns são tão superficiais. Sinceramente, também não é um problema ser superficial, o problema é ser vendido como uma abordagem profunda sobre um tema qualquer e entregar um nada. Dramas da realidade pós-pandêmica. Aí você pode me falar que é uma questão de fazer cursos de escolas não reconhecidas e tal, ao que respondo: sério?
No circo da internet as grandes universidade, instituições renomadas e institutos de alto padrão também assinam cursos caça-níqueis. Talvez nem sejam caça-níqueis, talvez só sejam cursos introdutórios que não têm o nome de introdutórios. Mas aí chegam todas as técnicas de SEO, remarketing, funil de vendas e você acaba se convencendo que o curso é pra você. Porque quem faz o texto e a equipe de vendas só tem números como metas. Sabe a preocupação em formar salas coesas com alunos que têm objetivos em comum? Em saber se o aluno realmente quer estudar aquilo, ou se está em um momento acadêmico ou profissional que seja compatível com o que será ensinado? Parece que isso é antigo e nosso dinheiro é levado junto com nosso tempo.
Sim, eu sei do que estou falando. Eu sofro a pressão de escrever para vender coisas sem receber briefings bem-escritos, até para vender cursos online, eventualmente. Aí eu pergunto: “Para quem é esse curso? O que o aluno vai aprender? Quais são benefícios?”, e muitas vezes só escuto que a ementa ainda não está 100% definida, mas que eu já devo conseguir fazer a comunicação.
Sendo assim, a venda às vezes pode ser feita para qualquer um, de um modo generalista e nem todos vão ter o que acham que estão comprando. Seja em um workshop de 2 horas ou uma pós-graduação de 18 meses.
Valor
Existe um ditado popular, e quem me conhece sabe que não gosto muito de ditados populares, já que a maioria deles fala só besteira e acúmulo de preconceitos, mas existe um que fala:
Quem sabe faz, quem não sabe, ensina.
Para mim ele é uma espécie de tradução porca da frase do Oscar. Também não gosto porque acho que é um desrespeito com os professores. Faça-me o favor, agora todos os professores são pessoas recalcadas? Que não sabem o que falam? Esse ditado dissemina a falta de respeito com a educação.
Claro que tive muitos professores que não sabiam do que estavam falando e esses são responsáveis por grandes defasagens de aprendizado na minha minha vida. Mas também tive problemas com professores que sabiam muito sobre suas áreas de atuação, mas eram zero didáticos. Não sabiam ensinar nada, não entendiam as dificuldades dos alunos e ficavam em seus mundinhos onde tudo fazia sentido.
Esse tipo de ditado popular traduz a forma de pensar do povo, mas isso não deveria significar que esta forma de pensar esteja certa. As coisas podem melhorar, evoluir. Não é possível que a gente se conforme em ficar presa a um modelo antiquado, só porque ele é socialmente aceito.
Sim, vai ter que fale que é mimimi. Que o mundo está ficando chato. Sempre tem. Mas sempre tem gente para reclamar de qualquer coisa, então nada de novo.
Crenças
Existe um conceito de crenças limitantes, que de um modo bem mais ou menos de explicar, seriam coisas que a gente acredita e que impedem nosso desenvolvimento, e nem é só de uma forma espiritual, a coisa pode ser bem material, como conseguir um emprego ou emagrecer.
Algumas são fáceis de identificar e mudar, outras não. Tem quem vai tentar resolver de um jeito místico, enfiar palavras difíceis no meio. Eu sempre desconfio desse tipo de coisa, e desconfiar não é desacreditar, é mais uma questão de não acreditar cegamente. Afinal, mesmo não acreditando muito, leio horóscopo quase todo dia.
Voltando. Cada pessoa tem sua história, e guarda uma coisa ou outra de suas experiências. Pensando na minha vida, coisa que a quarentena me proporcionou com o auxílio da minha terapeuta, conclui que preciso largar algumas coisas que não servem mais pra mim.
Não tem mais espaço na minha vida a crença de que sou uma pessoa que nunca vai fazer nada certo. Quero muito deixar essa crença para trás. Ela vem de várias experiências da infância e adolescência, quando escutei algumas frases adoráveis:
Você tem umas atitudes tão provincianas.
Ninguém gosta de mulher com tanta opinião.
Mulher não consegue ser muito boa no que faz porque se distrai com o cabelo.
Bom mesmo era quando a fulana estava aqui.
Hoje percebo que essas frases dizem mais sobre quem as falou que sobre mim. Mas isso em um nível racional. No subjetivo eu ainda tenho receio de estar passando vergonha, de não saber me comportar direito, das pessoas não gostarem de mim por eu ser quem sou, como uma professora substituta que não consegue conquistar a sala e fica o tempo todo escutando dos alunos que a professora é muito melhor que ela.
Acontece que não importa o que eu faça, sempre vai ter alguém para reclamar e jogar em mim as próprias frustrações. (Por favor, entenda aqui que estou falando dentro de um espectro de pessoa legal, se você tá sendo um pé no saco, sinto muito, a responsabilidade é toda sua. Mas é um direito seu.). Então viver preocupada não cabe mais na minha vida. Pisar em ovos, guardar o que sinto, estar sempre tensa não faz bem para a saúde. Ate porque nada disso garante tranquilidade, as críticas continuam sempre aí.
Então meu presente para mim mesma é começar minha organização de Ano Novo, tirando de mim o que não me cabe mais e ser um pouco mais eu, mesmo que isso não pareça nada demais.
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Pós-escrito: nem todos os cursos online são furada e eu fiz muitos, mas muitos mesmo ao longo do ano. Acho que no texto ficou claro, mas vale reforçar. Um que foi muito importante para mim, agora no fim do ano, foi o HUG. Também aprendi muito com o Design Thinking and Creativy for Innovation.