O início da História

Sim, com H maiúsculo, aquela que se deveria estudar, sabe?

Gabi
4 min readAug 28, 2023

No auge dos meus 42 anos, cheguei na fase de perceber as coisas se repetindo. Os ciclos de moda se completaram e o que usei quando estava tomando consciência da minha individualidade voltou a ser tendência. Vestido de alcinha, sleep dress, vestido camisola. Maquiagem em tons de marrom, boca em degradê, cintura baixa, SATC.

A História não começou no ano 2000, com o bug do milênio. No macro, muita coisa se repete. Escolhas políticas desastrosas refletindo em desastres econômicos. Um estresse contínuo dos recursos ambientais. Eu lembro quando houve a Rio 92 e assim, e Amazônia insônia do mundo continua aí. O país avançou e regrediu mil vezes no assunto, inclusive, acho difícil dizer o quanto é uma questão só do país já que o clima é global. A novela Pantanal foi produzida duas vezes e a região mudou muito de lá pra cá. Muita água secou e agora vão refazer a Renascer, afinal deu dinheiro. Enquanto isso, as supermodelos originais estão na capa da September Issue da Vogue Norte-americana enquanto Gisele Bundchen retoma sua carreira.

Então o mundo tem as redes sociais e uma nova dinâmica de se aprender coisas novas e eu particularmente adoro a facilidade que a internet traz para alcançar o conhecimento. Com a ajuda de aplicativos aprendi a falar francês e italiano o suficiente para entender conversas, ler artigos e interagir com pessoas. Sem gastar o que eu gastaria em escolas de idiomas (o que eu adoraria, mas não tinha dinheiro nem tempo). Fiz alguns dos meus melhores amigos hoje, aprendi receitas de diferentes lugares do mundo, consigo ver os desfiles praticamente em tempo real.

Mas tudo tem seu lado blé

A verdade é que eu não consigo culpar a mídia. Na faculdade existia uma demonização da televisão, que na época era a grande mídia destruidora de lares. Hoje ela divide esse trono com a internet. Para mim as duas são apenas meios, plataformas por onde as pessoas se expressam. Os canais de TV têm obrigações educativas? Essa era a discussão na faculdade e eu sempre respondi para os colegas que esperar que a TV tivesse consciência social seria uma atitude infantil, afinal uma emissora é uma empresa que visa o lucro. O mesmo penso hoje com a internet. Cada empresa na internet, seja aplicativo de ensino de idioma, joguinho, rede social, portal de notícia, não importa, cada um deles é uma face de uma empresa em busca do lucro. Ok, alguns não são, mas isso é uma minoria.

A grande maioria das empresas na internet está ali tentando ganhar seu dinheiro. Seja cobrando uma assinatura, exibindo uma propaganda ou fazendo publi. Mas e a celebridade que tem sua conta na rede social e parece tão divertida?

Pra quê uma celeb tem uma conta numa rede social?

Você é uma jovem atriz e quer conseguir um papel em um filme. Você pode ser muito talentosa e aí vai passar no teste. Ou você é muito bonita, e aí acham que podem trabalhar com umas aulas de atuação e resolve. Ou você tem um pai ou uma família influente e isso resolve. Às vezes são várias dessas coisas juntas e, às vezes, você tem um perfil com milhões de seguidores que vão dar muita visibilidade para sua produção.

A interação de uma celebridade com os fãs pode ser genuína? Claro que pode. Um ator, cantor, escritor e tal pode ter uma conta em uma rede sem pretensão de fazer negócios. Mas se a página é muito cuidada, trabalhada e tal, duvido muito.

Voltando à História

Agora que tenho 42 anos e já vi alguns ciclos se repetirem algumas vezes, vejo os embates de gerações nas redes sociais. Os jovens acham que Hailey Bieber está revolucionando o mundo com esmalte perolado, blush avermelhado e cabelo castanho com mechas mel. Preguiça.

Sua equipe de marketing coloca nome de comida em tudo, o que acho especialmente inteligente, afinal todo mundo consegue se identificar. Mas HB é uma modelo mediana, mais conhecida por seus sobrenomes. Filha de um ator hollywoodiano, casada com um cantor. E também por sua relação estranha de fã/hater com a ex do marido — terapia cai bem.

Mas o jovem fã a defende com todo seu amor e compra o que ela vende como sendo a grande descoberta, uma invenção única. Enquanto é apenas mais do mesmo que nós, pessoas pré-internet e até algumas que já nasceram com internet já viu e viveu.

Obviamente que a maquiagem de morango da HB não é um problema real. Ela tá vendendo seu produto superfaturado e ficando ainda mais rica em cima de um monte de gente que nunca vai ficar rica? Sim, mas paciência. Isso é capitalismo.

A questão é que nessa de só querer olhar pro novo, sem estudar o que já aconteceu, deixamos repetir erros grotescos como valorizar ditadura militar ou cair os índices de vacinação. Sério, quando estudei essas coisas na escola achei que era praticamente impossível que voltassem a acontecer. Estava enganada. A falta de educação básica é uma política pública.

Então é isso. Para além de falar besteiras nas redes, brigar com fandons e inventar nomes novos para cores e peças de roupas, estudar o passado, ou seja, a História, é fundamental para a sua vida. E mais importante que saber os nomes de cada rei Luis na França e o ano exato de guerra da Cisplatina, é entender as consequências das coisas. Aproveita que você tem internet e dá uma estudada (mas por favor, busque várias fontes de historiadores, não vai em achismo de idiota palpiteiro).

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Written by Gabi

A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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