Vou ser sincera, nunca entendi muito bem esse ditado, essa frase. Mas, levando-se em consideração que de boas intenções o inferno está cheio, começo a visualizar algum sentido.
Quando tinha escolhido este tema para escrever sobre ele, era com alguma finalidade que me foge agora. Só que o mundo acontece, a vida acontece e faz tudo mudar. Ontem, por exemplo, fui surpreendida por uma declaração do Secretário da Cultura que gelou os ossos:
Se você não quiser ver o vídeo e preferir ler:
A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo — ou então não será nada.
Se você acha que isso é ok, tem que aprender a interpretar texto. Mas vamos pular essa parte e ver de onde foi tirado.
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos [potência emocional] e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.
Ou seja, nosso secretário usou como base o discuso de ninguém menos que o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. Se você não sabe aonde isso acabou, dá um Google. Você deveria ter estudado, mas estudar tá fora de moda, não é?
A contrapartida
Para ganhar a adesão da galere, o secretário anunciou um prêmio com um valor que faz crescer os olhos. Mas advinha? Para ganhar, a obra tem que estar dentro das regras do governo. Tem que adular. Criar esses heróis nacionais que eles querem. Tem censura? Sim, mas eles usam outro nome para isso.
O resultado é uma produção cada vez mais homogênea, sem criatividade e mentirosa. Enquanto a economia é insistentemente mostrada em crescimento, mas nas ruas a gente vê que esses números não batem, o próximo passo é tentar fazer um projeto cultural nos moldes nazistas. Parabéns aos envolvidos.
Pelo menos a gente tirou…
Eu sei. Também não sou a maior fã do partido e do barbudo. Mas sério, esse discurso é desonesto. Quando tiraram a presidente, a maior crítica à Dilma era que ela não estava próxima o suficiente do Lula. Nas eleições existiam inúmeros candidatos.
Aí, para fugir de um suposto comunismo, que o PT não implantou em 3 mandatos completos e um incompleto, a gente vai adotar o nazi-fascismo? Parabéns. Incompreensível para mim.
O Brasil está com uma imagem péssima no exterior. É motivo de chacota. Sabe o dólar? Não para de subir. Os investidores estão preferindo outros países mais confiáveis pois nossa nota depois do golpe caiu. Ah, e os juros baixos sem refletir uma saúde econômica tornam o país desinteressante aos capitalistas. Mas boa parte das pessoas não quer saber disso, mesmo com o churrasco ameaçado, porque quem pensa é persona non-grata.
Nosso presidente puxa-saco do presidente dos EUA, que é muito errado na vida e na história. Fala claramente de suas intenções erradas e, que coisa, nós, brasileiros, estamos anestesiados na roda dos ratos.
Atualização
O Secretário da Cultura será exonerado, mais por ter copiado do que pelo que falou. Coincidência retórica. Sério? O que será que vai entrar no lugar?
A Embaixada da Alemanha já se pronunciou, falando que tá tudo errado.