Naturalmente arriscado

A segurança em risco com a falácia do natural

Gabi
3 min readMar 24, 2022

Eu não sei dizer se sou uma pessoa cética ou crédula demais, mas eu sei que princípios ativos de muitos medicamentos vêm de plantas. Sabe a Aspirina® que é um símbolo dos alopáticos? Seu princípio ativo vem do sabugueiro, uma planta usada desde a antiguidade por seus efeitos analgésicos e recebeu esse nome comercial em 1889.

Foto de Teona Swift no Pexels

Claro que esse é apenas um caso, mas vou contar uma coisa: não é exceção. No auge das minhas crises de pânico, minha mãe volta e meia aparecia com alguma solução mais natural e uma delas foi um chá de uma erva com nome de santo. Pois bem, ela não sabia, mas esse mesmo chá é usado como o tratamento principal para ansiedade em alguns países na Europa e poderia ter uma interação medicamentosa com o meu tratamento prescrito pelo médico.

Melhorar a digestão e estimular a diurese (ou pra ajudar a emagrecer, fingindo outra coisa).

Nós, mulheres, sofremos com uma grande pressão para emagrecer e nos manter em uma forma que só existe na cabeça de sádicos. Mas essa não é a única pressão que nos abala. Não podemos ser fúteis, temos que fingir que não estamos nos esforçando. Temos que ser naturalmente magras e joviais. Nessa linha de raciocínio, os chás, compostos naturais, farinhas enriquecidas, cápsulas de ervas ganham um grande terreno.

Imagina, você não está em uma luta inglória para emagrecer, está apenas tomando um chá (mesmo que esteja um calor de 40º). Os medicamentos alopáticos para emagrecer são conhecidos por influenciar no humor, causar dependência e serem agressivos ao organismo — e sim, muitos deles são, não devem ser tomados sem critério ou orientação.

E os naturais, estão realmente muito longe disso?

De cabeça, consigo lembrar de dois casos recentes e famosos de morte por falência hepática. A maioria das pessoas acha que apenas o medicamento comercial tem contraindicação, sem se ater ao fato que qualquer coisa que ingerimos tem um potencial para ser tóxico — tudo depende da quantidade.

Carambola, uma fruta ótima, pode ser prejudicial para os rins, mas dificilmente alguém vai comer carambola o suficiente para ter problemas com sua composição — e mesmo assim acontece eventualmente. Agora, se um chá é indicado para emagrecer, ganha fama no boca a boca e as pessoas passam a substituir água pelo produto, o potencial para uma intoxicação ou sobrecarga.

A cantora Paulinha Abelha do grupo Calcinha Preta morreu aos 43 anos após entrar em coma profundo por: meningoencefalite, hipertensão craniana, insuficiência renal aguda e hepatite. Os exames encontraram cerca de 16 substâncias no corpo da cantora que estão ligados a medicamentos para emagrecer ou diuréticos.

Uma das substâncias está ligada à garcinia comboja, uma erva asiática muito conhecida entre os produtos naturais para emagrecimento, que, no entanto, tem alto potencial hepatotóxico (tóxico para o fígado).

No começo de fevereiro uma enfermeira já havia morrido de hepatite fulminante após tomar chás emagrecedores. Note, enfermeira, uma pessoa que tem acesso a informações de saúde e, mesmo assim, se colocou em risco pela pressão para ser magra. O chá, dito natural, continha ervas muito consumidas atualmente em sua composição: ervas, como chá verde, carqueja e mata verde. Mas quando foi que alguém falou que alguma dessas ervas tem potencial tóxico para o fígado?

Enfim, como pessoa que já recebeu muitos conselhos para usar soluções naturais, abandonando ou não o tratamento convencional, meu alerta é para se manter muito atento ao que está por trás de cada produto.

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A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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