Eu nunca fui fã de bilionário, principalmente daqueles que já vem com dinheiro antigo na família. Isso pra dizer que não consigo achar que ninguém com o superpoder financeiro seja genial. Afinal o diferencial desse tipo de pessoa é nascer muito rico e não ter medo de ficar sem ter o que comer, onde morar ou devendo para o banco. Essa liberdade de poder fazer o que quer, arriscar, ter tempo e dinheiro para inovar dá resultados.
Ou maquia resultados?
E não é só o dinheiro. São os contatos, os lugares que conhece, as culturas diferentes a que teve acesso. Cursos, crédito, conhecimento. Coisas que esquecemos quando nos comparamos e nos sentimos mal. É saber que para algumas pessoas a rotina não inclui 3 horas só de ida no transporte público ou cozinhar a própria comida.
Ser criativo e inovador exige tempo e disposição. Já discuti com várias pessoas sobre não ter disposição de aplaudir bilionário, porque na minha cabeça eles têm sim obrigação de entregar mais que a gente.
Material world
Existe uma certa diferença entre o ideal e o real que costuma ser esquecida com certa frequência. A gente se cobra do ideal, e até acho que isso é bom. Mas é bom até que deixa de ser. Tentar melhorar sempre é ótimo, mas se forçar além dos limites não traz benefícios.
A gente vive em uma lógica de comparação e constante insatisfação. Tudo nos leva a nos comparar e achar que precisamos chegar ao ponto que o outro está. Nossa casa não é boa o suficiente, nossa vida não é divertida o suficiente, nossa performance não é maravilhosa o suficiente. A gente se compara e se cobra como se todos tivéssemos as mesmas condições. Não temos.
Dificilmente eu vou conseguir os mesmos salários que meus colegas homens desempenhando a mesma função com a mesma qualidade e a culpa não é minha. Existem diferentes tipo de preconceito estrutural, são erros de sistema. Mas esse mesmo sistema faz a gente achar que o problema é individual.
A gente também sente algumas perdas coletivas como individuais. Copa do Mundo, Eleições, falta de água, tempo seco… até o fechamento do X.
Nada de novo
Sei que não trouxe nenhuma informação nova, mas em tempos de fechamento do X/Twitter, a gente precisa relembrar o básico.
- O Elon Musk estragou a rede quando comprou.
- Liberdade de expressão não pode ser passe livre para fake news.
- Nenhuma empresa pode estar acima da lei.
- O público brasileiro tem um peso grande na rede e sua monetização.
Enfim. Não dá pra romantizar nem para esquecer que o Elon é o Elon querendo ser dono do mundo e tratar os demais humanos como súditos. Sinto falta de confirmar as informações com a agilidade do Twitter. Ainda tenho acesso, mesmo sem VPN, mas é um acesso capenga e a falta de todo mundo desestruturou tudo.
Não acho que o careca está certo em tudo, mas em colocar um limite na bagunça, sim, nisso ele está. Ou você quer outro governo bolsonaro, com mais gente contra vacina e achando ok defecar em cima de uma mesa de prédio público?
Algumas pessoas falam desse fenômeno do fechamento da rede social como um problema individual. Já ouvi sobre crise de abstinência, carência, não saber o que fazer com o momento de tédio. Bem, duas coisas. Tem várias, mas vou focar em duas.
- Tem bastante gente chateada, como disse, eu mesma sinto falta. Mas o ministro precisava sim parar com a loucura. Se deixa passar, a boiada estoura de vez.
- Nos últimos anos percebo que muita gente desaprendeu (tem que nunca tenha aprendido) a lidar com o tédio. Isso faz falta. Antes de se apegar em outra rede, em jogo do tigrinho ou qualquer outro vício pra matar o tempo, tira uns minutos pra pensar sobre isso. Talvez esse tempo possa ser necessário para coisas que você (eu) estava adiando faz tempo.