Já falei que eu gosto de domingo?

Vento nos cabelos, sol no rosto, pé na areia

Gabi
3 min readAug 1, 2023

Quem vai para Caraguá só em janeiro, pode achar que não faz sol na cidade. Sim, em alguns anos é capaz de chover ao longo de todo o mês — para o azar de quem só conta com ele como férias.

Não é o meu caso. Nasci e fui criada a quinze minutos do mar em uma cidade pequena e tranquila. Posso afirmar com tranquilidade que o sol brilha bem mais fora da alta temporada. Claro que isso não significa praia todo dia, afinal as pessoas também trabalham no litoral. Mas os domingos…como eu amava os domingos!

Lembro de acordar antes de todos e já colocar um biquíni. Ficava assistindo sei lá o quê na televisão, talvez Telecurso, talvez Globo Rural, até meus pais acordarem, prepararem o café e arrumarem as coisas pra gente ir pra praia. E ela era toda nossa.

Consigo sentir o cheiro de mar, misturado ao do protetor solar, que minha mãe passava sempre. — Não que você precise com essa pele bronzeada de quem fica brincando o dia todo no sol, mas é melhor passar. Ah, os anos 1980 e a ilusão de que se não arde, não tem problema.

Antes do meu pai montar o guarda-sol eu já estava na água — NÃO VAI PRO FUNDO! CUIDADO! Na praia, a água era o meu lugar. Não queria saber de tomar sorvete, comer espetinho ou qualquer outra coisa. Era nadar, mergulhar, esperar meu pai entrar pra jogar pra cima e cair com emoção, minha mãe entrar e fazer esguicho com a mão, coisa que até hoje não aprendi a copiar.

A areia grudando nos pés nunca me incomodou — É só jogar água. E se viesse uma onda? — É só afundar. E se começar a chover? — Tem que sair na hora se estiver com raio e trovão.

E muitas vezes a chuva vinha. Em gotas grossas, pesadas, doces. Se não tinha raio, elas tiravam o sal do corpo, massageavam a cabeça e o rosto, avisavam que era hora de ir embora.

Em outras vezes não tinha chuva, mas tinha fome. Meus pais nunca foram de torrar o dia todo na praia. Se tinha dado fome, era hora de juntar tudo e ir pra casa almoçar. O cardápio ia ser churrasco, porque no domingo sempre era churrasco e alguma coisa. Na casa dos meus pais, até hoje o cardápio de domingo é esse quando vou lá.

De tarde não tinha computador, nem celular. Tinha o videogame, mas com o sol lá fora, o videogame ficava pra mais tarde. Meu vô me colocava na cadeirinha da bicicleta e ia por aí. Acho que foi nessa época que eu comecei a amar o vento. — Boa tarde, “seu” Mário. — Boa tarde.

Às vezes ia na casa da tia Helena, um reino encantado particular. Subir na árvore e comer fruta no pé? Sim. Descer o morro em uma caixa de papelão? Também. Pular do segundo andar da construção no monte de areia? Com certeza. Fazer geladinho? Claro. Quando o vento mais frio começava, era hora de ir. O domingo estava terminando, mas antes a gente ia assistir Trapalhões. Acho que hoje metade do meu domingo seria proibida para as crianças. Ainda bem que não foi pra mim.

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A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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