Já dizia o ditado…

Gabi
3 min readJun 26, 2024

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Particularmente, acho que ditados populares e letras de música são versos com prazo de validade. Sim, pode ser um prazo bem longo, mas algum prazo existe. Principalmente porque a gente muda — como nossos pais.

Não resisti.

A música, cantada pela Elis Regina e presente em muitas homenagens de formaturas pelo Brasil é um clássico. Que homenagem é essa em que a intérprete está reclamando que depois de tudo, tudo, tudo, estamos como nossos pais? Porque em alguma entonação, aquilo poderia não parecer uma reclamação, mas no arranjo clássico, ela me passa um sentimento de derrota pouco lisonjeiro para os homenageados.

Mas e os pais em questão? Nunca vi um pai ou mãe reclamar da música. Vai ver que, por eu não ter escolhido ser mãe, não tenha entendido alguma coisa.

Muitos ditados populares são contraditórios uns com os outros. Então temos a água mole em pedra dura para valorizar o esforço, e o melhor um pássaro na mão para valorizar um comportamento mais consevador. Ou seja, basta escolher o que melhor se adeque ao momento.

Ainda me ocorre que tem ditado popular que perpetua preconceitos, justifica falta de ética ou é erro de tradução. Se a voz do povo é a voz de Deus, precisamos rever muita coisa aí. Qual povo e qual Deus? De certo modo, gosto a perspectiva de que existe uma certa simbiose entre mortais e divindades, em que a fé dos mortais é o que dá força às divindades. Sim, totalmente inspirado em Deuses Americanos. Talvez eu devesse estudar alguma coisa nessa área, afinal isso me incomoda e me intriga.

As músicas vão pelo mesmo caminho, até porque muitas músicas usam esse recurso em suas letras. Comece com “Pau que nasce torto nunca se endireita” perto de alguém que viveu os anos 90 e escute a continuação. Talvez a pessoa chegue até o tchã.

Eu acho que músicas são ferramentas incríveis para lidar com situações que a gente não tá entendendo. Músicas, livros, filmes, arte em geral. Mas são ferramentas e não oráculos, donos de verdades absolutas.

Tem alguns livros que gosto de reler de tempos em tempos, um deles é Alice no País das Maravilhas e o outro é Cem Anos de Solidão. Ambos confundem a realidade com a fantasia, e ganham tons mais ou menos sombrios cada vez que eu leio. Gostaria de ter anotado minhas impressões a cada leitura, para comparar. Mas não o fiz, então não vou começar agora. Não faz sentido.

Acho que o que me irrita nesse uso de frases feitas e letras de músicas é que as pessoas simplesmente deixam de pensar. O que poderia ser um recurso vira uma armadilha, uma amarra.

Até porque apesar de tudo, tudo o que vivemos, não somos ou seremos como nossos pais.

Concluindo

Sim, somos filhos deles, recebemos muito de herança (não dinhiero, a parte imaterial), mas o que fazemos com isso é responsabilidade nossa.

Olha, eu entendo que os ditados populares fazem parte da cultura de um povo. Mas é até por isso que eu não acho que podem ser considerados verdades eternas, afinal toda cultura é relativa a um grupo delimitado e não necessariamente válida para todos.

Tá um pouco confuso? Pois é.

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Gabi

E lá vamos nós! Terra do Nunca? Bad Place? Certamente atravessamos o espelho.