Estilosa
Acho que não é segredo que eu sempre gostei de moda. Gosto de coisas bonitas, interessantes, que me façam feliz. Gosto de contar uma história com as minhas escolhas. Mas está cada vez mais difícil pra mim fazer isso.
Primeiro, por conta da questão geracional de identidade. Digo geracional porque muitas amigas estão falando da mesma coisa:
Não sei quem sou. Não entendo mais qual é a minha essência. Não me reconheço no espelho.
Em algum momento eu cheguei a cogitar que esse sentimento pudesse ser derivado do fato de eu não ter tido filhos. Pois é, a tal da culpa cristã sempre marca presença. Mas ao conversar com amigas que são mães, percebi que ter filhos não muda a história. Às vezes até agrava.
Xóvem
Quando eu era mais nova, decididamente era uma pessoa de saia curta, decotes e fendas. Tentava não ser muito óbvia, porque ser igual a todos nunca me agradou, mas definitivamente fazia questão de ter um elemento sexy.
Como já escrevi aqui, mais de uma vez, nunca fui muito magra. Até porque o muito magra nos anos 90 era absurdamente magra. Hoje, vejo as fotos e percebo que não era tão grande quanto imaginava. Mas para época, sim, eu era fora do padrão.
Mas a gente entra no mercado de trabalho, precisa lidar com os medicamentos para ansiedade, perde colágeno, ganha quilos… Ser fatal como eu gostava deixa de fazer sentido. O que não significa passar a ser uma pessoa da moda modesta. Mas o que significa? Bem, essa é a dificuldade aqui.
Já usei estampas mais fofas, já montei um visual mais corporativo e já me senti perdida outras vezes. Hoje, tento voltar ao que me era familiar e não fico satisfeita. Então vou buscar ideias.
Inspiração
O que eu vivi nos anos 1990 está de volta: a magreza exacerbada. Impulsionada por influencers e pelo onipresente Ozempic, tem muita gente muito magra nas telas. Vivemos uma epidemia de obesidade com uma galera endinheirada pagando uns 700 reais para perder a fome. Não quero julgar, cada um sabe dos seus problemas, mas quando vejo pessoas muito magras comprando na farmácia, só penso que tá doentio.
O que eu penso não importa tanto no que diz respeito ao outro, vamos voltar à moda. Eu tava falando antes sobre a busca de ideias e tem coisa que parece tão simples, tão comum, mas que falam ser incrível e tal. Por muito tempo eu pensei que era eu que não conseguia mais combinar as peças, até que li alguém perguntando se as montações eram estilosas mesmo, ou se só falavam isso porque a pessoa na foto era magra.
Ter consciência disso me fez perceber que não adianta ter peças interessantes, eu continuo achando que não tô bem vestida porque meu corpo não é um corpo que será bem vestido (segundo o que a gente vê). Isso é cruel e dolorido. Uma pessoa gorda com o mesmo estilo de uma magra é tida como desleixada, sem graça, confusa ou vulgar. Muito parecido com a forma que me sinto ao experimentar roupas.
De verdade
Para contrastar (e me desmentir), tem uma garota bem gordinha que sempre pega ônibus no mesmo horário que eu e é puro estilo. Tudo no look dela parece bem pensado. O corte de cabelo, as roupas, os óculos e sapatos.
Ao me dar conta disso, entendi que a minha questão é que ainda quero ver a antiga eu no espelho e que me vejo com meu próprio olhar preconceituoso. Ainda mais porque minha saúde tá ameaçada e tem pressão dos médicos pra emagrecer. Sobra cobrança e falta amor próprio.
Então chego aqui sem conclusão nenhuma, com vontade de comer um lanche e sem ideia do que vestir.