Espelho da liderança
Uma das pautas em alta é a escolha de que vai substituir Rosa Weber no STF. Vários setores da sociedade estão pedindo para que o presidente Lula escolha uma mulher negra, que é pra ir melhorando a representatividade e a resposta foi desanimadora.
“Diversidade não será critério…”
Qualquer mulher, negro, PDC ou qualquer outro grupo minorizado no mercado de trabalho sabe o que isso significa: provavelmente vem aí mais um homem branco.
Ao afirmar que a escolha será pelo que achar que é melhor para o país, o presidente cai na cilada do viés inconsciente. Toda e qualquer pessoa acha que sabe o que é o melhor, então quando vai escolher um candidato para uma vaga, tende a escolher alguém que faria o mesmo que ela. Claro que não dá para saber com certeza em uma entrevista, então começam as buscam por coisas que deem essa pista.
Se o candidato fala coisas parecidas, tem vivências parecidas, tiques e traços físicos em comum, as pistas vão se somando. Então imagine que em um mundo de homens brancos, que estudaram mais ou menos nas mesmas instituições, o viés inconsciente vai reforçando as pistas que o decisor procura e a escolha, na maioria das vezes é por homens brancos — sem nenhuma surpresa.
No mundinho da comunicação
Esses dias li sobre um evento que tratava de questões de equidade. A solução apontada na notícia era sobre o investimento em educação para mulheres se prepararem melhor para cargos de gestão. Essa era a iniciativa para diminuir a desigualdade. Alguma coisa me incomodou e eu não soube dizer ao certo o que era no momento, mas agora, bem, depois de dormir e acordar com isso na cabeça, acho que consegui entender.
Tem muita incoerência nesse discurso e já começa com o fato de que as mulheres estudam mais que os homens.
Aí fica difícil aceitar que a chegada à liderança pelas mulheres seja atrapalhada por uma falta de qualificação formal delas. Esse tipo de afirmação, no meu ponto de vista, é uma saída preguiçosa, que culpa a vítima pela injustiça que ela sofre. Segundo o próprio material da pesquisa:
Portanto, todas as adversidades encontradas por elas não podem ser atribuídas aos níveis de escolaridade ou de instrução.
Em vez de dar mais uma coisa pra mulher fazer, que tal…
Ensinar os atuais líderes a fazerem processos de seleção e evolução de carreira mais igualitários? Ou então, combater a sobrecarga e o preconceito com a maternidade uma vez que sempre consideram que as mães devem ser responsáveis pelas crianças? Também seria interessante lembrar da questão da aparência que no mercado de trabalho, que é mais cruel com as mulheres. Tem que estar com as unhas feitas, o cabelo sem um fio fora do lugar, em plena forma física e usar maquiagem. Mas não pode parecer que dá muita importância ou gosta disso, senão não é séria o suficiente para um cargo de gestão. E envelhecer é proibido.
Acho que deu pra entender porque eu não acho que a questão da falta de equidade no mercado de trabalho vá se resolver só com cursos para mulheres. Os homens também estão precisando aprender algumas coisas. Sem essa mudança de mentalidade e comportamento geral, não tem solução. Isso porque nem falamos nas questões de assédio.
E para ficar claro uma coisa, essas mudanças não são urgentes só para mulheres terem mais oportunidades. Isso é necessário para que a economia como um todo melhore. Já foi estudado e comprovado que as empresas mais diversas têm melhores resultados. Ou seja, sair da frente do espelho não é favor para ninguém.