A vida é uma matéria estranha. A gente caminha, caminha e não tem ideia de onde vai chegar. Ainda assim, a gente precisa de objetivos. A vida sem objetivos é um grande purgatório, transformando a gente em uma espécie de zumbi.
Para alguns o objetivo é juntar dinheiro. Para outros é casar e ter filhos. Tem quem queira construir sua casa e quem queira conhecer o mundo com uma mochila nas costas. Certas pessoas desejam fama, outras querem respeito. Ainda tem quem apenas queira sair de onde está, porque está em um lugar muito ruim.
Conheço uma senhora que adoece toda vez que alcança um objetivo. Começa a falar sobre morrer, perde o interesse na própria vida. Até que aparece alguma coisa para criar uma preocupação e a saúde volta. Essa alguma coisa pode ser organizar um casamento, conhecer o neto ou estar presente no casamento de alguém. Um objetivo.
Projetar algo muda o futuro do que é possível.
Escutei essa frase em uma aula da Echos e ela me faz pensar na importância de ter intenção do que fazemos. Na visão mostrada na aula, a felicidade não é o resultado de sorte, mas sim construída com boas escolhas — feitas conscientemente.
Não que intenção seja a resposta mágica para tudo. É apenas um ingrediente. Afinal, não importa o quanto eu pense que sou rica, meu cartão faz questão de me lembrar do contrário. Mas, se eu quero fazer uma viagem, se tenho essa intenção, começo a me organizar para conseguir pagar as passagens, ter férias na época que pretendo viajar, tirar visto, se for preciso…
Se quero conseguir fazer um casaco, procuro o modelo, fico de olho em promoção de tecido, estudo formas de fazer um acabamento mais bonito e por aí vai. Ou seja, a intenção ajuda a guiar as ações para alcançar o que quer que seja.
O problema é que existem obstáculos e obstáculos.
Nem todos são facilmente superados e achar que ter um objetivo é o suficiente para conseguir superar obstáculos é uma cilada. Quem acorda às 5h30 da manhã pra ir trabalhar, pega 3h de transporte público para ir trabalhar e mais 3h para voltar, com obrigação de cuidar dos filhos e talvez de pais doentes, dificilmente vai ter tempo para fazer academia, marmitas saudáveis para levar pro trabalho ou um curso de idiomas, por exemplo. Com a comida saudável cada vez mais cara e a superprocessada mais acessível, essa pessoa corre o sério risco de ter problemas de saúde, engordar, ensinar os filhos a comer só o que tá embalado. E não dá pra culpar a pessoa, pra ela, é inviável.
É onde a meritocracia falha. É como falar que alguém que vem de uma família sem recursos vai ter as mesmas condições de alguém formado nas melhores escolas, que possa se dedicar apenas ao estudo por um tempo e ainda tem os contatos certos. A competição é injusta e a gente nem entrou no campo dos preconceitos.
Agora que já falei que não existe milagre, vou voltar ao sonhar com o futuro. Sonhos grandes e pequenos dão sentido pra vida. A quem tanta coisa é negada, ter um sonho realizável e fazer coisas para que ele se torne realidade é uma parte importante da vida.
A gente não quer apenas acordar, trabalhar, ter o básico e dormir até que um dia morra. O ser humano normalmente precisa sentir que está vivendo para achar que acordar todo dia vale à pena, e, para isso, os objetivos são essenciais. Quer dizer. Eu acho.
Depois de tanto tempo sem saber para onde queria ir, agora meu objetivo é entender quais são os meus objetivos. Já é um começo, não?