Ansiedade

Não necessariamente a minha

Gabi
3 min readJan 8, 2025

Eu passei muitos anos da minha vida achando que era uma pessoa ansiosa. E como não? Os médicos falavam que eu tinha síndrome de ansiedade, eu tomava remédio todo dia pra isso. Até que descobri que sou zero ansiosa e o problema na minha cabeça é outro.

Não que eu seja imune à ansiedade. Eventualmente vou ter expectativas e tentar antecipar o que vai acontecer — para o bem ou para o mal. Mas é uma ansiedade natural, nada paralizante.

Mas sabe o que me paraliza? Excesso de estímulos. Muita gente, muitas luzes, muito barulho. Talvez seja por isso que eu dificilmente vá a shows, odeie lugares abafados e saia de festas para respirar. Fico mais que cansada. Eu me esgoto e, eventualmente, deixo de raciocinar.

Eu queria ser superior a isso, odeio ser frágil. Estragar a vibe dos outros. Esse tipo de coisa.

Minha pilha

Tem várias coisas acontecendo na minha vida, algumas muito boas e outras nem tanto. Mas coisas que envolvem pessoas também envolvem a ansiedade delas.

A gente combina um prazo e a pessoa ficar perguntando se já tá pronto? — Não tá, vai ficar pronto no prazo. Ou gente que quer te usar de Google enquanto é só ler o site na sua frente? — Eu não tenho todas as respostas. Ou querer que você lembre de datas, nomes e talvez coisas que nunca me contaram? — Tenha uma agenda. Minha memória é boa, mas não conte com ela.

Junta com uma cobrança por perfeição, vinda diretamente de mamãe, e eu fico esgotada rapidinho. Mamãe tem boas intenções, eu sei. Só que eu não acho que deva ser perfeita pras outras pessoas poderem relaxar. Não quero.

Enfim, com cobranças em diferentes níveis por todos os lado se une à minha tendência a ser solícita. Tenho a frustração de não conseguir responder a tudo instantaneamente e bate o sentimento que por anos acreditei ser ansiedade. Mas não era.

Era um grande esgotamento mental. A sensação de querer sair correndo que eu tive por anos não vinha de uma necessidade de antecipar cenários, mas de uma pilha de estímulos que exige um isolamento, mesmo que de 10 minutos. Um pouco de silêncio, um banho, talvez um cochilo para colocar meus neurônios alinhadinhos novamente.

Não é uma coisa pra ser tratada com Rivotril ou evitada com Venlafaxina. É o caso de me dar um tempo e deixar as coisas se acalmarem naturalmente.

Redescobrir

Entender que não sou ansiosa me ajuda a ter mais confiança, porque deixa claro pra mim que não vou temer desafios e que não preciso de muitos remédios pra funcionar. Eu sempre senti que via as situações de jeitos diferentes das outras pessoas. Entendia as coisas mais rápido e conseguia pensar em associações. Escutei que estava sendo arrogante e tive minha autoestima destruida. Teve professor que não me deu nota porque achava que eu tinha fraudado.

Além disso, sempre acreditei nas críticas e opiniões dos outros. Acontece que as expectativas deles falam sobre eles. Elas são criadas independentemente da nossa vontade ou intenção, o que significa que não é responsabilidade nossa apesar do que Saint-Exupéry escreveu.

Descobri que o desgaste em tentar não decepcionar é uma tentativa inútil de manejar os anseios das outras pessoas. Não os meus. E eu só tenho algum grau de domínio sobre o que sai de mim, não sobre o que qualquer outra pessoa entenda.

Essa dinâmica de ter que ser responsável pelas decepções nos outros sobre expectativas que nem saia que existia é cruel. Cansativa. Adoece. No meu caso, a exaustão que sinto me leva a comer sem pensar ou saborear, apenas pra ter energia e conseguir continuar respondendo, resolvendo. Não é saudável.

Não sei como lidar com a vida ainda, mas descobrir que não sou uma ansiosa crônica me dá uma esperança de que em algum momento eu aprenda a resolver problemas que pareciam sem solução.

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A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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