Ainda estou aqui?

Gabi
3 min readNov 27, 2024

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Pois é, modas vêm e vão em um ciclo infindável. Eu queria que algumas coisas fossem superadas de uma vez, como os tênis com salto, mas sempre tem alguém pra puxar isso de volta.

Coisas que eu considerava superadas fazem o desfavor de reaparecerem, como o fascismo e o movimento anti-vacina. Pra quê?

Ontem fui no cinema assistir o filme da Fernanda Torres. Posso ter chorado mais de uma vez e quem me conhece sabe como isso é difícil. Não apenas pela brutalidade da ditadura, a falta de respostas dos familiares e a sensação de que tudo pode acontecer de novo a qualquer instante. Também por ver o fim da vida da Eunice e me lembrar da minha vó.

Eu fico me perguntando como foi que o mundo voltou a aceitar ter doenças que antes tinham sido erradicadas ou achar que golpe de Estado é uma solução decente. No começo dos anos 2000 eu pensava que era besteira se falar em Guerra Fria, e percebia Hollywood migrando os vilões da Rússia para o mundo Árabe. Agora a Rússia tá na briga de novo.

E talvez seja difícil perceber, já que ninguém toca no assunto, mas a motivação não é mais uma luta comunismo x capitalismo, agora a ex-URSS é capitalista também. Então por que a luta?

O filme falou bastante comigo no que diz respeito ao dia a dia dos filhos. De uma infância de sonho, com tudo perfeito e um futuro brilhante pela frente para um corte abrupto da realidade. O fim dos dias de sol e mar, conforto emocional e financeiro, para um cotidiano cinza.

De repente temos políticos falando abertamente em matar outros políticos e dar um golpe. E uma parte da população acha que tem que ser assim mesmo. Podre. Na verdade não foi de repente, tem uma certa reincidência aí, mas no passado foi dada anistia, né?

Entendo que nem todos que votam nessas pessoas concordam com esse modus operandi, mas aceitam. Talvez não percebam que eles podem ser os próximos a sofrerem um golpe? Perderem um filho, um pai, um conhecido. Podem se iludir com promessas de mudança econômica, vão trabalhar mais e ganhar menos, e talvez continuem defendendo quem os rouba e agride. Na verdade, não é que eu entenda, boa parte deles eu só considero que não teve aula de história do Brasil na escola.

Não sei dizer se o filme merece um Oscar. Não sei dizer nem se isso é tão importante quanto o nosso frisson faz parecer. Mas acho que as pessoas deveriam ver e pensar se querem mais daquela violência. Fernandia tá maravilhosa? Sim.

Talvez uma parte do público ache que a violência e os desmandos tenham sido necessários e justificáveis. Dizem que quem não deve, não teme, mas esquecem que quando as regras mudam o tempo todo, ninguém sabe se está devendo.

Também dizem que ninguém mais gosta de ler. Não me importo, eu gosto de escrever e preciso fazer isso para continuar funcionando.

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Written by Gabi

A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.

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