Lembro quando meu pai fez 44 anos e eu falei que ele era oficialmente um coroa. Na minha cabeça essa era a idade em que adultos se tornam coroas, homens e mulheres.
Bem, meu aniversário está chegando e nem adulta em consigo me sentir de fato. Acho que vou pular de jovem para coroa instantaneamente. A pele derretendo e com manchinhas, o metabolismo mais lento que nunca, dores no joelho direito após um mal jeito. Os cabelos que sempre foram grisalhos agora também caem. A derrota.
A idade chegou, mas sinceramente, o número em si não é um problema pra mim. Se eu tivesse sido a rainha do baile talvez fosse sentir mais hoje. O que não muda a necessidade de levar a academia mais a sério e me alimentar melhor. Afinal, agora faz diferença nos exames e na qualidade de vida.
Faz diferença também no mercado de trabalho. Homem de 44 anos não é considerado velho no mercado, é um garoto. Agora, mulher… Se você tem filhos, vem um discurso sobre quem vai cuidar das crianças e se não tem, bem, você tem alguma coisa errada e não faz sentido na lógica da maioria. Mulher sempre tá errada.
Não sei o que quero vestir, o comportamento que agora é mais adequado e dizem que esse sentimento, assim como muitas outras coisas, são reflexo da minha neurodivergência. Pelo menos não é (apenas) falta de fé.
Gostaria de escrever sem medo do julgamento. Tenho medo de magoar as pessoas com personagens. Da minha mãe não aceitar bem a mensagem passada pela história. De todo mundo odiar e eu me sentir pior.
Além disso, o Pequeno Príncipe fica ecoando na responsabilidade de cativar sabe-se lá o quê. Essa coisa sempre me irritou, mas agora adulta percebo que me irrita por conta do quanto nós mulheres somos responsabilizadas pelas violências que sofremos. A roupa, estar sozinha, beber. Acho que vou morrer antes que consiga superar esse discurso e talvez isso também seja parte da minha neurodivergência.
Por mais que eu não aceite a coisa de ser eternamente responsável, eu também não consigo superar isso. Pelo menos ainda não consegui. Falam que eu preciso ligar o botão do foda-se, mas é sempre aquilo: ligue o fada-se, mas não comigo.
Vou fazer 44 anos e estou aqui lutando contra inseguranças como uma adolescente tentando levantar a cabeça pra coroa não cair. Acho que vou ficar bem velhinha antes de ser adulta.