1. Recuperando o controle

Gabi
4 min readAug 22, 2024

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Hoje começo a retirada de um medicamento que tem me mantido sob controle nos últimos anos. Sob o controle de quê, você pode perguntar. Visivelmente não estou falando de peso, porque essa está longe de ser uma questão resolvida. Talvez possam pensar na enxaqueca, tema constante aqui, mas essa está sendo resolvida com um tratamento novo, mais barato e com menos efeitos colaterais. Comecei faz três semanas, então não é ela.

Faço tratamento para ansiedade desde 2013, o ano em que eu tive umas crises fortes que me impediam de viver normalmente. Tremores e dores de barriga. Medo de desmaiar a qualquer momento e em qualquer lugar.

Meu tratamento sempre foi feito com a associação de dois medicamentos: um para regular o humor e evitar picos, outro para ansiedade. Por anos tomei um medicamento que me mantinha ok, mas vi meu peso aumentar uns 40 kg. Sim, tudo isso. E quando peitei a médica sobre o assunto, ela me disse que era impressão da minha cabeça. Quando mudei de cidade, um outro médico trocou o remédio para o atual. Parei de engordar e até emagreci uns 5 kg. Só que aí a coisa estacionou.

Recentemente também percebi uma queda de cabelo expressiva. Ao começar o tratamento dermatológico, tive reação. Quando me sugeriram conferir se os remédios para ansiedade não poderiam causar essa queda, eu não esperava encontrar tanta informação sobre a minha saúde no geral.

Não apenas a queda de cabelo, mas outras questões de saúde que estou enfrentando também podem ter relação com os medicamentos para ansiedade. Aumento de colesterol e glicemia, pressão alta. Um combo incrível.

Eu já estava conversando sobre a retirada da medicação com minha psiquiatra, principalmente após fazer alguns testes neuropsicológicos. Os testes identificaram Superdotação e Aspenger, dando origem a uma nova teoria sobre as minhas crises. Talvez meu tratamento precise ser outro.

Só que os medicamentos para ansiedade não são tão simples assim de lidar. Não é o caso de parar e pronto. Como boa parte das drogas, esses medicamentos causam uma certa dependência e a retirada, abstinência. Por isso, minha médica disse:

Vamos fazer esse processo de forma bem gradual.

Começamos com a retirada do medicamento que garantiria minha estabilidade e foi bem tranquilo. Agora começo a tirar o que trata a ansiedade. Estou animada com a possibilidade de não ser mais refém de um comprimido diário com um impacto tão grande na minha saúde. Ao mesmo tempo, com medo de sentir outra vez tudo o que vinha com as crises de ansiedade.

Acredito que viverei alguns pequenos infernos, mas espero superar cada um até recuperar minha saúde.

3. Imagens

O terceiro dia sem venlafaxina está puxadinho e faz eu me questionar se vou conseguir. Não que esteja acontecendo alguma coisa, mas eu não me sinto bem. É um não sentir bem sem uma definição exata. É meio nuvem, consegue tampar o sol mas não tem consistência.

É um processo químico e, por isso, não se trata de ter pensamentos melhores. A sensação de que vou quebrar só está presente e eu gostaria muito de ser riquíssima e fazer isso dentro de um lugar com massagens, passeios, piscina e alimentação equilibrada. Bem, não é só por isso que eu gostaria de ser riquíssima.

Mas acho que ajudaria nesse processo.

Consigo ouvir minha mãe falando sobre ter fé que isso vai passar. Religião não é a matéria nesse caso. Existe um espaço em que a gente precisa entender que o processo é químico, e olha que eu tô falando de tratamento médico e não de recreação (se bem que acredito que a dependência causada por substâncias recreativas também têm um fundo de necessidade não tratada, mas não vem ao caso).

Vou tremer, vou chorar, vou bagunçar meu apetite e talvez não dê certo. Paciência. Eu gostaria muito de retirar toda a medicação, mas se não der, não deu.

5. Expira

O quinto dia de desmame começa com a sensação de que tudo é possível. Controlar a enxaqueca, retirar os medicamentos, ser mais saudável. Parei de sentir que tudo é difícil, de achar que vou começar a tremer a qualquer momento.

Precisei priorizar o que realmente queria. Não sair sem vontade, dormir na hora certa. Estar feliz com o cabelo faz diferença, impressionante como sou boba, mas tenho o direito de não ser uma pessoa preocupada o tempo todo.

Perdi a conta

Já não sei ao certo há quantos dias comecei o desmame. Acho que o fato não estar mais sentindo tanto a diminuição da dose me libertou da contagem. Claro que tudo começa de novo na próxima diminuição, mas vou manter a política de uma coisa de cada vez.

E os exercícios físicos. Voltei essa semana e a ideia é pegar firme. Vamos ver. Como por um tempo será ais do mesmo, vou parar o relato por aqui. Afina se uma coisa excepcional acontecer, ela ganhará um post inteiro.

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Gabi

A gente escreve o que não entende para entender o que não se escreve.